TV, rádio, celular e as mídias sociais são meios individuais de comunicação. Mas hoje os comunicadores, no afã de mostrar popularidade, abusam, desrespeitam as características do meio e falam com a pessoa do outro lado como se fosse uma plateia: PESSOAL, MINHA GENTE, MEU POVO, GALERA ETC.
São vícios, ou muletas de linguagem, que, sem recursos maiores, o apresentador de TV e rádio usa para tentar ser simpático e segurar o telespectador e o usuário ou seguidor, no caso das mídias sociais, que tudo acompanha pelo celular ou computador, conectado com a internet.
Embora cada vez mais presentes nas mídias (até em textos) o abuso do vocativo popular, como “meu povo”, “pessoal”, “galera”, entre outros, pode ser considerado condenável em todos os contextos. É pura vaselina o texto do politicamente correto ChatGPT– OpenAI (2025), quando, abordando o contexto do meio, escreve que “em plataformas como a TV ou rádio, onde a audiência é massiva, o uso de termos coletivos pode ser mais comum”, embora ressalvando que no caso das “mídias sociais, onde a interação é mais próxima e direta, essa abordagem pode parecer inadequada”.
Em nenhuma situação os meios – rádio, TV, mídias sociais – deixam de ser individuais, mesmo quando há diálogo bidirecional, como tenta arrolar como exceção, que, na verdade, é uma reafirmação. As mídias sociais, aporta o ChatGPT– OpenAI (2025), possuem características que as diferenciam de outros meios de comunicação, que em nada afetam a individualidade: interatividade (bidirecionalidade); conteúdo (emissão/recepção); imediatismo; personalização; acessibilidade; viralidade; formação de comunidades e o suporte de multimídia (texto, imagens, vídeos e áudios).
Ademais de tudo ainda há o desrespeito ao vernáculo. O apresentador, com um sorriso eufórico, entra em cena: “pessoal, tudo bem? Hoje tenho uma bomba (sempre um exagero) para você… Galera, fica ligada e dá logo o seu like…”. E alguns apresentadores e repórteres fazem comentários ruins e repetitivos e, às vezes, ainda se perguntam para dar as explicações do caso que está sendo abordado (incrível). Vi o Halisson Ferreira (Bom Dia Ceará da TV Verdes Mares) comentar uma notícia e, no meio de sua fala, indagou a si mesmo “e aí Halisson, como é isso?”. E ele mesmo respondeu. Ele tinha obrigação de informar tudo, e sem o famoso “meu povo …”.
Em novo questionamento sobre a individualidade dos meios, a plataforma IA escreveu, trazendo por fim que realmente se trata de um “ponto muito relevante sobre a forma como a comunicação nas mídias sociais e outros meios deve ser adaptada ao contexto individual. Embora as mídias sociais permitam interações em massa, a experiência do usuário é, de fato, individual”. Muitas são as considerações sobre a individualidade e o respeito ao espectador, sem a necessidade da impessoalidade. Veja alguns pontos que inserem riscos de prejudicar a comunicação em seu inteiro e correto significado, ou seja, com a boa decodificação da mensagem, conforme ensinava o filósofo canadense Marshall McLuhan, pois “o meio é a mensagem”, quer dizer, a forma como recebemos a informação é tão importante quanto o conteúdo que ela transmite.
- O uso de vocativos, como “galera, meu povo, pessoal”, podem criar a sensação de impessoalidade e desrespeito, desconsiderando a experiência única de cada espectador ou ouvinte (eu confesso: desligo quando alguém começa com o “pessoal ou galera”);
- Os consumidores de conteúdo têm expectativas e podem também, nas mídias sociais, se transformar em emissores de opinião, por isso esperam um tratamento que reconheça sua presença individual. Frases como “você que está assistindo” ou “você aí” podem estabelecer uma conexão mais direta e pessoal;
- Uma comunicação que reconhece o indivíduo tende a ser mais autêntica e gera uma conexão mais forte. A forma como nos dirigimos ao público deve considerar a natureza individual da experiência do usuário, especialmente nas mídias sociais, onde a interação é mais próxima e pessoal, o que pode fortalecer a relação entre comunicador e audiência.
Leia mais, conheça as características do meio que você utiliza, seja com puro diletantismo ou profissionalmente. Você pode estar no meio de um estádio de futebol lotado, mas quando pega seu celular para ver uma mensagem é só você e o emissor. Não importa que outras milhares de pessoas tenham feito o mesmo acesso e no mesmo minuto, ou que, no mesmo momento, você partilhe o conteúdo que está recebendo com alguém que o acompanha.
Cada meio (que também é a mensagem)molda a percepção do conteúdo de maneira única, influenciando não apenas o que pensamos, mas como pensamos. A internet e a tecnologia muda muito em cada vez mais reduzidos ciclos, mas não mudou ainda pontos como a individualidade e a necessidade de respeitar o espectador, que se fortaleceu com possibilidade de também ser emissor.
Veja (e leia) “Understanding Media: The Extensions of Man”, de Marshall McLuhan, publicada em 1964, mas cada vez mais atual. Procure (está nas plataformas de conteúdo) os estudos conduzidos pela Harvard Business Review, que mostra que a revolução digital acelerou o conceito de que o meio molda a mensagem – a concisão do “X” o impacto da imagem. Outro estudo, de 2018, da University of Cambridge, aporta que o meio digital tem um impacto significativo na cognição humana, afetando a memória, a atenção e até mesmo a empatia.
Lembra quando McLuhan previu o mundo que viria como uma aldeia global? Chegou faz tempo. A Internet, com seus blogs, redes sociais e podcasts, mudou drasticamente o panorama mediático. Esta previsão materializou-se na forma como vivemos, trabalhamos e nos comunicamos hoje.